Psicoterapia, questões e o imaginário coletivo.
- Marcelo Vagner
- 9 de mar.
- 4 min de leitura
Como terapeuta é muito comum acolher todo tipo de dúvidas e questões. Afinal o processo terapêutico é basicamente composto de questionamentos de toda natureza. O questionamento é a matéria prima e ponto de partida para reflexões e descobertas. Também é correto dizer que um questionamento muitas vezes leva a outros questionamentos.
As respostas aos questionamentos vão sendo construídas, localizadas, descobertas. Nem sempre elas chegam de forma direta e completa. Elas podem chegar em partes, como um quebra-cabeça.
Possíveis respostas vão se apresentando e vão sendo aceitas na medida que façam sentido. É sempre bom lembrar que uma pergunta, não necessariamente, tem uma resposta certa ou exata. De fato, as respostas podem ser tão diversas quanto as possibilidades que você é capaz de significar.
Pode-se dizer que a origem dos nossos questionamentos vem da necessidade de dar, ou melhor, emprestar significado a algo. Podemos tomar como exemplo a necessidade de significar experiências, sentimentos, comportamentos, percepções e, por aí vai.
Apesar dos questionamentos serem, como já dito, matéria prima para a psicoterapia, eles ironicamente podem ser um empecilho, dificultando, ou mesmo impedindo que você reconheça que precisa de ajuda e consequentemente a sua busca por ela.
Quando falamos de psicoterapia, podemos dar alguns passos atrás e notar que alguns questionamentos têm início muito antes da primeira consulta ser agendada. Alguns questionamentos não compreendidos, podem impedir o fluxo essencial de questionamentos positivos e necessários para os objetivos de uma pessoa. A título de podermos aqui significar esses questionamentos, vou chamá-los de Questionamentos do Imaginário Coletivo.
Vejamos alguns exemplos desses tipos de questionamentos:
· Psicólogo...!? Eu não sou maluco!
· Pagar alguém para conversar...? Isso eu faço tomando uma cerveja com meus amigos.
· Se eu for ao psicólogo, vou ter que falar tudo da minha vida?!
· Eu não acredito/confio em psicólogos/na psicologia.
· O que o psicólogo vai me dizer que eu já não sei?
· Terapia de Casal? O psicólogo vai ficar desse ou daquele lado...
· Terapia? Não preciso que ninguém me diga o que fazer.
Sim. Questões podem vir travestidas de afirmações.
Sim. Como falar ou ter certeza sobre algo que sequer foi experimentado?
É como se você concluísse que uma fruta que nunca experimentou fosse doce. Você pode concluir isso, pelo aspecto da sua casca, interior, ou pelo seu perfume. Naturalmente seu cérebro fará um comparativo. Mas o fato é que você não sabe.
De tanto ouvir e repetir frases como essas, as pessoas as tomam como verdade, sem sequer se permitirem perguntar o que elas mesmas acham sobre o assunto. E é este o ponto em questão. Quando perdemos a capacidade de nos perguntarmos o que achamos sincera e honestamente sobre qualquer coisa.
· Como saber se não estou repetindo o medo que é de outra pessoa?
· Como saber se toda essa convicção é minha?
· Como saber se não estou evitando a má experiencia de outros?
Esses são questionamentos interessantes e que nos leva a outros questionamentos.
· Como deixar de me apoiar em experiências que nunca foram minhas?
· Quando farei minhas próprias perguntas para obter resposta que só interessam a mim?
· Como retomar aquela curiosidade e olhar natural que uma criança tem quando deseja conhecer algo?
Ao questionar a origem das suas dúvidas ou mesmo das suas convicções, certamente abrirá espaço para discernir o que é seu e o que vem do Imaginário Coletivo. Desse modo é possível que naturalmente comece fazer suas próprias perguntas, tipo:
· Por que me sinto só?
· O que me faz me sentir tão diferente das outras pessoas?
· Por que a opinião dos outro me preocupa tanto?
· Por qual motivo, sempre que estou perto de algo importante, sinto que vou paralisando?
· É possível que eu precise de ajuda?
O objetivo é encontrar respostas que falem diretamente para você.
Atenção! É importantíssimo lembrar do que será colocado a seguir.
Embora suas dúvidas se pareçam com as dúvidas de outras pessoas, é importante compreender que as suas dúvidas estão diretamente ligadas à sua história de vida, a pessoa que você é e, a pessoa que você deseja ser. Isso é único, pois não existe ninguém como você, ou com necessidades idênticas as suas. Logo, suas questões e as respostas encontradas, simbolizam e carregam consigo significados que farão mais sentido para você do que para qualquer outro. É como um teste de DNA entre pai e filho. Por isso, não adianta se basear na pergunta do coleguinha, nem acreditar que a resposta que ele encontrou irá servir para você, completa ou parcialmente. Eis a razão para que você faça seus próprios questionamentos e tente encontrar respostas que façam sentido para a sua vida.
Nossas dúvidas pedem para serem encaminhadas. Quando não o fazemos, elas podem silenciar por algum tempo ou ficar ricocheteando dentro de nós. Elas pedem por respostas, por desfecho. É algo que desejamos entender. Talvez, apenas para que possamos seguir adiante. Nem sempre é fácil, pois, por vezes, não sabemos o que fazer com as respostas que conseguimos. E está tudo bem! É só seguir adiante.
Formule as suas questões, sem medo de ser feliz, e tente respondê-las. É de graça e sem impostos. Se você não está acostumado a fazer isso, é natural que as respostas não cheguem de imediato ou que não sejam as que você esperava. Mas com o tempo e prática, você irá aprender. E é aí que fica interessante, pois ao responder uma pergunta, você encerra um episódio e dá início a outro. A cada nova pergunta respondida você avança e quando menos perceber, você estará em movimento
Marcelo V S Freitas
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